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DESAFIOS DO MERCADO DE RESÍDUOS REAPROVEITADOS

Parece elementar, mas para uma cadeia de suprimentos de um produto industrial seja completada, ou que exista, é necessário que haja mercado para o produto. De forma simples, não haveria cadeia de valor pelo uso das matérias primas, nem industrialização e distribuição, sem o consumo ou mercado apropriado para esse produto. Para os produtos ou materiais reaproveitados vale o mesmo efeito, ou seja, é necessário que haja consumo suficiente para alimentar uma cadeia de valor e suprimentos.

Convém lembrar que, conforme definição de Leite (2003,2009,2017), que existem pelo menos duas categorias de retorno de resíduos:

Retorno espontâneo quando interesses econômicos garantem as fases de sua cadeia de valor reversa. Caso típico de Metais, Latas de alumínio, Chumbo de Baterias comuns automotivas, Papéis etc.

Retorno induzido quando, na falta desses interesses econômicos naturais, legislações são necessárias para obrigar as empresas produtoras e comerciantes destes produtos descartados a organizarem as cadeias de valor. Caso típico de Pilhas e Baterias, Eletroeletrônicos, Plásticos, Lâmpadas, Óleos usados etc.

No retorno espontâneo não existe necessidade de legislações ou outros esforços adicionais para a geração de uma cadeia de retorno organizada, pois sua existência é garantida pelas condições de valor do usado e, muitas vezes, uma acirrada disputa no mercado de metais usados, sendo tabelados nas bolsas de mercadorias.

No retorno induzido, como não existe valor adequado do bem usado ou as condições logísticas não o permitem adequadamente, é necessário que existam leis que incentivem a criação de valor destes bens usados. O mercado é, portanto, mais “artificial”, por isso entendido como mercado induzido.

No entanto, mesmo com as legislações, percebe-se as condições de mercado são muito aquém do esperado. Alguns fatores que dificultam a criação deste mercado são nítidos e presentes, com maior ou menor intensidade, na maior parte do mundo, inclusive no Brasil.

Conflito de interesses de diversas naturezas: trata-se da concorrência entre os fabricantes de materiais e produtos em relação aos seus resíduos. Um dos exemplos mais interessantes é do setor de remanufatura de peças automotivas onde os setores atuam como concorrentes declarados. No entanto em outros setores a concorrência pode ser menos visível, mas os resíduos reaproveitados “podem” oferecer concorrência aos produtos ou materiais novos. Acrescente-se, em particular, o caso dos plásticos comuns cujas companhias fabricantes de resinas e transformadores vêm sendo denunciados por mentirem a respeito da reciclagem destes produtos, que de acordo com pesquisas nos USA não são realmente recicláveis em sua maioria.

Problemas de captação (coleta) dos usados:  sejam materiais ou produtos usados. Trata-se de uma das áreas mais complexas das cadeias reversas pelas condições logísticas e de transporte destas coletas. Dependendo das características físicas e de outras naturezas destes resíduos, tais como: dispersão geográfica, peso, densidade, valor, forma, periculosidade, fragilidade, entre outras.

Grande parte do problema dos resíduos domiciliares, que são os principais nascedouros, resume-se na falta de efetiva coleta domiciliar, pois já discutimos em outros artigos a baixa eficácia de outras formas de coleta. Não se trata de colocar o ônus nas prefeituras, mas na atuação das empresas envolvidas de acordo com a PNRS.

“Performance” do reaproveitado: em muitos casos o reaproveitado pode não apresentar a mesma performance do produto novo, seja pela característica técnica ou pela constância de fornecimento de reaproveitados que dificultam sua reintrodução no ciclo industrial. Caso típico é dos plásticos comuns que revelam baixa performance após reciclados, podendo ser usados somente em produtos de baixa responsabilidade, como sacos para lixo ou equivalente.

Preço do reaproveitado: dada a alta produtividade dos produtos industrializados na atualidade, não acompanhada pela dos produtos reaproveitados, é comum se observar preços maiores nos reaproveitados em relação aos produtos novos, o que evidentemente dificulta a geração de mercado. Veremos que um possível motivo seria a falta de legislação de incentivos às atividades de reaproveitamento em geral.

Concepção de produtos e processos: destaca-se a necessidade cada vez maior de conceber produtos e adequar seus processos de tal forma a que tenham melhores performance nos processos de reaproveitamento. Facilidade de desmontagem, menor mistura de ingredientes, menor número de soldas, etc.

Legislações facilitadoras para o reaproveitamento: trata-se de editar leis que possam melhorar o interesse econômico dos processos e do mercado destes produtos tais como a redução de impostos em todas as atividades relacionadas (transportes, coletas, estocagem, processamento etc.), isenções de impostos nas transações destes materiais, entre outras possibilidades para melhorar os custos destas atividades.

Conscientização e comprometimento: é comum a mídia e empresas reclamarem sobre a falta destes aspectos, mas faltam informações e principalmente comprometimento de empresas no sentido de resolver o problema. O papel do cidadão, a meu ver, é o de pressionar as autoridades e empresas no sentido de avançar programas de Logística Reversa e de reaproveitamento de usados.

Redução do preconceito sobre materiais e produtos reaproveitados: empresas e sociedade em geral criam, em alguns casos, dificuldades para a reintegração e uso de produtos e materiais reaproveitados sob uma condição de preconceito. É necessário aumentar a informação e treinamento da sociedade e comprometimento das empresas em tentar a utilização e aperfeiçoamento do que ainda pode ser melhora nesses produtos.

Desenvolvimento de novos produtos: que sejam compatíveis com as necessidades de reaproveitamento, principalmente na área de plásticos comuns, que possam substituir aqueles que não se adequam corretamente. Trata-se como todos sabem, de iniciativas empresariais e de ciência aplicada que deveriam ser incentivados pelas indústrias e seus órgãos associativos, também resguardadas por sistema tributários. É imperativo para o meio ambiente e para um mundo mais adequado.

Certamente o assunto não foi esgotado, pois existem muitos outros aspectos envolvidos com estes mercados de reaproveitados em geral. Voltaremos a este assunto.




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